Na noite de ontem, moradores da comunidade da Rua Souza Ramos, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, tomaram as ruas em um protesto pacífico contra a construção do Túnel Sena Madureira, que está em fase inicial. As obras, que começaram no último dia 16, são parte de um projeto antigo da prefeitura, com o objetivo de melhorar a fluidez do trânsito na região. No entanto, a população local denuncia a falta de diálogo com a comunidade, além dos impactos ambientais e sociais já visíveis.
Com faixas, cartazes e gritos de ordem, os manifestantes pediam a paralisação imediata das obras, alegando que mais de 200 famílias podem ser desalojadas sem informações claras sobre indenizações ou realocação. “Nós estamos sem respirar. O barulho dos caminhões, o pó que soltam na madrugada, tudo isso está prejudicando nossa saúde e nosso sono”, relatou Mara Cavalcante, técnica em enfermagem de 58 anos e moradora da comunidade há seis anos. Sua filha de 12 anos, segundo Mara, teve de fazer inalação durante a madrugada devido à poeira gerada pelas obras.
A ausência de consulta pública foi um dos pontos mais criticados pelos manifestantes, que se sentem excluídos das decisões que afetam diretamente suas vidas. Um abaixo-assinado com mais de 200 assinaturas foi anexado à representação feita pelo partido Rede Sustentabilidade ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), pedindo a suspensão das obras em defesa do meio ambiente e das famílias que ali residem. “A gente não teve contato da prefeitura, não existiu suporte, nem cadastramento em projetos sociais de habitação. Por que essas obras estão correndo? Para pular um semáforo?”, questionou Magda Moreira, de 25 anos, moradora da comunidade desde o nascimento.
A preocupação com os danos ambientais também foi tema central do protesto. As primeiras etapas da construção já resultaram na derrubada de árvores e na intervenção em uma nascente do Córrego Emboaçu, que alimenta o Córrego Ipiranga. “Tinha muito verde aqui, mas agora só sobrou poeira. Eles concretaram o córrego, e a chuva, quando vier, vai causar enchente e lama”, lamentou Mara.
Em nota, a prefeitura garantiu que todas as medidas ambientais estão sendo seguidas, incluindo a autorização para a supressão de 172 árvores e a compensação com o plantio de 266 mudas de espécies nativas. A obra, segundo a administração municipal, pretende beneficiar mais de 800 mil pessoas que circulam pela região, além de gerar 2,5 mil empregos diretos e indiretos.
No entanto, para os moradores da Vila Souza Ramos, a falta de transparência no processo e os impactos negativos já sentidos são suficientes para manter a mobilização. Uma reunião que estava marcada para ontem entre representantes da comunidade e a prefeitura foi cancelada devido à superlotação do auditório da Subprefeitura da Vila Mariana, sendo remarcada para esta quinta-feira (3).
Enquanto isso, o sentimento de incerteza paira sobre as famílias que não sabem se poderão continuar em suas casas. As próximas semanas serão cruciais para determinar os rumos desse embate entre a comunidade e o poder público, mas o recado dos moradores já foi dado: eles não pretendem sair sem lutar por seus direitos e pelo que acreditam ser justo.