Fique por dentro...

domingo, 4 de junho de 2023

Como é lidar com uma mãe narcisista?

Vanessa Gebrim

Você não precisa entender e nem se sacrificar pela sua mãe narcisista; a psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, Vanessa Gebrim, explica sobre como é passar esse processo e o que pode ser feito para superá-lo

Sabemos que criar um filho na sociedade atual não é uma das tarefas mais fáceis. Um tema pouco levado em conta pela maioria das pessoas, é a saúde psicológica das mães. Para se ter uma ideia, de acordo com a pesquisa “Mommys e Saúde Mental”, 62,7% das mães afirmam que têm sensação de vazio, quando perguntadas sobre a saúde mental. Em contrapartida, algumas mães enfrentam o que pode ser chamado de “Transtorno de personalidade narcisista”. Não são poucas as mulheres que sofrem com isso, mas o diagnóstico é baixo - estima-se que cerca de 1% da população tenha uma forma diagnosticável da doença. Para os filhos, também não é fácil lidar e manter uma boa relação com uma mãe que age de forma narcisista.

De acordo com a Vanessa Gebrim, psicóloga e especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, essas mães existem e pode haver algumas formas de identificá-las. “As mães narcisistas se tornam incapazes de estabelecer vínculos e de criarem conexões nas relações. Se elas sentirem que não tiveram atenção e suporte, tratarão seus filhos sem a menor empatia, contradizendo e rebaixando-os para se sentirem melhores. Existem alguns indícios que são os principais a serem notados na hora de identificar uma mãe narcisista como o fato delas não pedirem desculpa, causarem intrigas, não cumprirem o que prometem, normalizarem o sofrimento alheio, agirem de forma egoísta e deslumbrada, sem respeitar os limites individuais dos filhos”, explica.

Além disso, para lidar com a situação da melhor forma, é fundamental que os filhos se imunizem desse tipo de comportamento. “Eles precisam sentir pela mãe, a empatia que elas não podem ter. Em muitas vezes os filhos percebem qual é a real necessidade: se convivendo menos para manter uma relação mais saudável ou se afastando cortando o contato, para encontrar independência e autonomia. É uma decisão delicada, uma experiência muito dolorosa, mas com dedicação e planejamento o distanciamento pode ser reconfortante, sabendo que é possível ser feliz e valorizar outros relacionamentos fora do ambiente familiar”, complementa.

A relação entre mãe e filho pode ser afetada de várias formas se o narcisismo falar mais alto de um lado. 


Entenda:
1. Os filhos perdem a autonomia

“Os filhos de mães narcisistas não são sujeitos com muita autonomia. Crescem num contexto familiar de agressividade, desamparo, manipulação e culpa pelas emoções dessas mães que se sentem em posse permanente desses filhos. É uma relação comprometida por atitudes perversas, frias e cruéis. Esses filhos sofrem com os comportamentos abusivos, sendo constantemente criticados, tendo suas opiniões e sentimentos invalidados pelas mães que não comemoram as conquistas dos filhos, que usam métodos de controle como humilhações e comparações e podem até invejá-los”, comenta a psicóloga.

2. As relações dos filhos podem ser afetadas

“Os filhos de uma mãe narcisista podem se afetar no sentido de se tornarem adultos com baixa autoestima, que deixam suas necessidades de lado para evitarem conflitos com essas mães. Vale assinalar que as filhas são as mais expostas aos riscos reais. Conforme vão crescendo e se tornando mulheres interessantes e atraentes são apontadas como maiores ameaças para essas mães, que vivem se comparando a elas e criando rivalidades. As filhas que tentam agradar essas mães, por viverem em vulnerabilidade, costumam apresentar dificuldade para reconhecer seus próprios méritos e competências, sentem-se mais ansiosas que o comum e tendem a se defender o tempo inteiro. São cobradas, exigidas, negligenciadas e até esquecidas. Geralmente sentem-se sozinhas com dificuldades de manter relacionamentos”, enfatiza.

3. As mães não prestam atenção em suas atitudes

“Muitas vezes, elas querem e até exigem que os filhos sejam e ajam exatamente como ela. São centralizadoras, manipuladoras, e gostam de projetar suas expectativas e frustrações nesses filhos. Usam doenças para controlar quem está à sua volta. Elas não encontram dificuldades de oferecer seu tempo para os filhos, porque vão querer que eles, na verdade, deem a ela o máximo de tempo e de atenção. São abusivas justamente por se considerarem superiores. Criam suas próprias regras e deixam de admitirem a culpa A psicoterapia é o tratamento mais eficaz para mudar isso”, diz a especialista.

4. É preciso entender sobre o narcisismo

“Uma das principais necessidades na hora de entender como agir com uma mãe que age de forma narcisista, é buscar informações sobre o assunto, como leituras, grupos de apoio, pesquisas sobre o tema etc. O importante é ter acesso a informação e perceber que não está só, outras pessoas também viveram o mesmo e passaram pelas mesmas dificuldades para lidar com a situação. É importante reiterar que também está tudo bem se afastar da mãe e das suas atitudes narcisistas, caso ache necessário”, entende.

5. A culpa é de quem?

“Os filhos precisam começar a entender a necessidade de se desresponsabilizar da necessidade de mudar a mãe. Não é culpa sua que ela seja assim, e não está sob o seu controle que ela mude. Uma das principais dicas é buscar terapia para cuidar dos efeitos da codependência que as relações abusivas podem gerar, de uma criação baseada no desrespeito e humilhação, na crença de que não será amado e respeitado, e em busca de se permitir desenvolver relações mais saudáveis com os outros e consigo mesmo”, finaliza a psicóloga Vanessa Gebrim.

Sobre Vanessa Gebrim


Vanessa Gebrim é Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, orientação de pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares, luto, entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário